Pandemia de desinformação: uma análise dos discursos de Jair Bolsonaro durante a primeira onda da COVID-19
Disinformation pandemic: an analysis of Jair Bolsonaro's speeches during the first wave of COVID-19
Palavras-chave:
Desinformação, Pandemia, Covid-19, Análise de discurso, Jair BolsonaroResumo
O estudo analisa 687 discursos do presidente Jair Bolsonaro durante a primeira onda da pandemia da covid-19. O objetivo é entender as estratégias argumentativas presentes nas desinformações mais comuns usadas pelo líder brasileiro. Para isso, utilizamos o banco de dados do serviço de checagem Aos Fatos, que verifica os discursos do presidente desde a posse no cargo. O recorte considera o período entre janeiro e setembro de 2020, intervalo que compreende a chegada da doença ao país; o registro dos primeiros casos; e o pico do contágio e do número de mortes da primeira onda. A análise pretende testar duas hipóteses. A primeira considera os tipos mais comuns de desinformação utilizadas. Para esta etapa, vamos utilizar a classificação de Ponce & Rincón, que mapearam as seguintes tipologias: (1) verdadeiro; (2) impreciso, quando necessita de um contexto; (3) exagerado, quando dados são superestimados; (4) insustentável, quando as premissas não podem ser nem refutadas nem confirmadas; (5) contraditório, quando o fato é o oposto do informado; (6) distorcido, com fragmentos de verdade; e (7) falso, completamente inverídico. O resultado esperado (H1) é de que a maior parte das declarações do presidente sobre a pandemia sejam imprecisas ou insustentáveis. Também vamos considerar as declarações mais repetidas de Bolsonaro e analisar as estratégias argumentativas mais recorrentes no discurso do presidente a partir dos estudos críticos do discurso que tratam do abuso de poder de grupos dominantes como forma de “gerenciar mentes”. Assim, acreditamos (H2) que as declarações mais repetidas trazem a desinformação como abuso de poder, utilizando recursos linguísticos para convencer o público a acreditar na narrativa mais conveniente ao presidente. Para a primeira hipótese vamos utilizar a metodologia da análise de conteúdo (AC). Levando em conta o número do corpus (N = 687), optamos pela abordagem quantitativa nos moldes propostos por Bardin. Os resultados consideram as seguintes categorias: periodização das declarações; meios de propagação; e tipos de desinformação. Para a segunda hipótese, vamos utilizar a Análise Crítica do Discurso (ACD) tendo como referencial os estudos de Van Dijk. Nesse caso, aplicado às frases mais recorrentes no discurso do presidente. Confirmando a primeira hipótese, 70,8% das declaração de Bolsonaro traziam dados sem contexto e em situações nas quais as premissas não podiam ser confirmadas ou refutadas. A estratégia do presidente foi justamente confundir o receptor num momento em que nem a ciência tinha todas as respostas sobre a doença. A análise de discurso de Van Dijk também confirmou nossa segunda premissa e as falas mais recorrentes de Bolsonaro tinham o objetivo de o eximir de qualquer responsabilidade como gestor público diante da pandemia. O tema que mais predominou foi a defesa da hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19. O presidente encontrou uma “cura” para a doença com o objetivo de evitar as medidas de isolamento social, que paralisaram parte da economia. Concluímos que, em meio à disputa pelo poder político, a vida dos brasileiros ficou em segundo plano para o mandatário brasileiro.
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Referências
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